Um lixão, um pinheiro , um menino e um sonho

Um lixão, um pinheiro , um menino e um sonho

Recentemente viralizou nas redes a foto de um menino mirando uma árvore de Natal encontrada no lixão.

O menino tem nome, chama Gabriel e estuda no 5° ano do Ensino Fundamental.

Ao levar o registro fotográfico a um de meus grupos de professores nas redes sociais pude ver diferentes olhares para o mesmo. 
Foto de João Paulo Guimarães.


Contudo aparentemente todos tiveram a mesma sensação de que algo não estava certo.

Eu pude recordar meus dias de lixão em lixão tentando coletar pet para alimentar meus filhos.

Dias e dias em que era preferível levá-los junto que deixá-los em casa sozinhos.

Doeu e como doeu.

Mas essa é parte da história de Gabriel e não minha.

O olhar do pequeno de 12 anos para o pinheirinho ainda com alguns enfeites pendurados me deixou pensativa.

Eu queria mesmo saber o que pensava ao mirar o objeto.

Acho que nunca saberemos, a menos que ele se recorde do que pensou.

Só sabemos o que ele disse depois:

"Nunca tive uma árvore de Natal em casa"

Não sei se em algum cantinho de sua mente - bem lá no fundo- existia uma crítica social.

Em mim veio uma forte indignação frente a uma constituição que não se cumpre e uma repulsa ao sistema político brasileiro.

Veio mesmo um sofrimento por saber que tanta gente que se comoveu com a imagem odeia política pública para os mais pobres e vive de chamar de vagabundos quem precisa complementar renda com auxílio.

Como pode tanta gente se achar sensível a dor do outro sendo incrivelmente insensível às suas necessidades básicas.

Lembrei-me de Freire. Como não lembrar?

"E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade."

Ora, um país em que existe justiça social ninguém precisará sobreviver de caridade alheia.

Gabriel, através de seu simples olhar para um objeto que ornamenta a casa de milhões de lares no mundo como símbolo de esperança e amor deu-nos um soco no estômago.

É  certo que com a comoção a internet inteira se moveu para fazer uma vaquinha.

A caridade é muito bem vista. E eu não sou contra a caridade quando necessário.

Eu só gostaria de nunca mais saber que uma criança sobrevive de coletar material no lixão.

Uma boa quantia foi coletada e que maravilha que a família dele terá um Natal melhor.

Mas, tem tanto Gabriel na mesma situação neste momento.

Entende por que precisamos de políticas públicas?

Eu não queria ver nenhum Gabriel ou João ou maria ou José em nenhum lixão mirando pinheiro algum.

Seria este meu maior sonho.

Contudo o sonho do Gabriel é mais fácil de ser realizado se comparado à utopia de esperar justiça social em um país onde políticos têm auxílio moradia tendo casa e o cidadão mora debaixo da ponte.

Gabriel quer estudar, ser jogador de futebol e comprar uma casa pra mãe.


Eu só fico na torcida pra que ele alcance cada desejo e que na casa nova que ele certamente dará pra mãe possa figurar um pinheiro como símbolo.

Mas símbolo de que?

Pra mim neste momento símbolo de reflexão sobre desigualdade social e quem sabe luta para que a justiça seja perseguida por quem se diz patriota em lugar de acreditar que só a caridade já tá ótimo.


Pense nisso e FELIZ NATAL


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